30 de nov. de 2009

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Aqueles que reclamam do calor porto-alegrense, não se preocupem: até o próximo domingo, voltaremos às temperaturas invernais, com neve desabando do céu e ursos polares brincando na redenção. Porque esta semana, se alguém fizer a famosa pergunta "pra que time tu torce?" nas ruas de Porto Alegre, ouvirá uma das respostas a seguir:

- Torcerei contra o Grêmio na próxima rodada. Logo, sou gremista.

- Torcerei pelo Grêmio na próxima rodada. Logo, sou colorado.

Sabem aquela expressão "virar o mundo do avesso"? Pois é. O futebol conseguiu torná-la verdade.

16 de nov. de 2009

O gatilho mais rápido do terceiro mundo

Essa história é antiga. Começa em um saloon não muito bem conhecido, mas bem frequentado. Um lugar para negócios escusos, onde as mesas estão sempre cheias de drinques e apostas, as mulheres amam o dinheiro e os homens tentam comprar apenas o que não podem ter. Ele fica na periferia de uma grande cidade, longe das delegacias e perto de rotas de fuga. Bem cuidado, mantém-se satisfatoriamente limpo e organizado. O dono, um ex-presidiário com uma cicatriz feia no rosto, sabe que para lidar com negócios sujos é preciso manter as aparências limpas.

Estranhos de terras distantes são bem recebidos, desde que tenham os bolsos abastados. Através de boatos, a fama que o saloon tem de atrair homens com todo tipo de informação, algumas confidenciais, alastrou-se Oeste afora. Oficialmente, vendem-se apenas bebidas ali. Mas, todos sabem, as conversas de bar giram em torno de assuntos que sequer deviam ser de domínio público. Especialmente daquele público.

Provavelmente foi isso que levou aquele grupo de magnatas ingleses à cidade. O tipo de praga que a corrida do ouro atrai, com suas promessas de riquezas infinitas. Não demorou muito para chegarem ao saloon e, após pagar algumas rodadas, já tiveram a curiosidade aguçada: um velho morador, com mais gosto por uísque do que por honestidade, começou a trovar sobre uma clássica história de tesouro escondido. Os bretões não perderam tempo e reuniram-se à mesa, ouvindo, anotando, reunindo indicações para um futuro literalmente brilhante.

"Fica em território indígena", rosnou um forasteiro quando o silêncio conseguiu um suspiro. Todos se voltaram pra ele. Chapéu cobrindo o rosto quase por completo. Roupas baratas. Aparência frágil. Longe de ser uma ameaça. Os ingleses se reuniram em volta dele. "Então acho que precisaremos ter uma conversinha com os índios, não é mesmo?". O copo à frente do forasteiro foi alvejado por uma bala, e gargalhadas ecoaram pelo saloon. Ele limitou-se a repetir a frase e saiu, sendo atingido por impropérios e ameaças. Lá dentro, a diversão foi intensa a noite toda.

No dia seguinte, os ingleses pegaram suas bagagens, suas conduções e saíram pra enfrentar a acidentada planície. Nem o sol escaldante aplacava a confiança deles. Bufões, arruaceiros, gritavam e celebravam cada pedaço percorrido, fazendo-se notar a quilômetros de distância. Com um arsenal composto dos melhores Colts e munição de sobra, acreditavam serem imbatíveis. De fato, os viajantes evitavam contrariar os bretões. Embora claramente com excesso de confiança, ainda possuíam armamento e conhecimento suficiente para assustar qualquer pessoa remotamente sã.

Por isso um deles mal viu a lança que raspou seu rosto e arrancou um naco da soberba que eles traziam. Rapidamente os ingleses desmontaram e organizaram-se em uma formação sólida, cobrindo todos os lados de onde poderiam ser atacados. Do outro lado, desorganizados, quase amadores, um grupo de índios tentava expulsar os invasores de suas terras sagradas. Não demorou muito até a disciplina britânica sobrepujar a força de vontade indígena. Após passar a vantagem do ataque surpresa, os peles-vermelha se encontravam agora acuados contra o rio onde banhavam seus filhos todos os dias. Algumas trincheiras naturais, resultados do terreno acidentado, algumas árvores e algumas rochas grandes eram tudo que protegiam os índios dos beijos salgados das balas. Os ingleses mantinham-se dentro de sua estrutura, firmes, e seus adversários não conseguiam encontrar nenhuma saída para superá-los. O que tinham em vontade, padeciam em criatividade.

Foi quando ele surgiu. O forasteiro do saloon. Antes que a caravana inglesa pudesse perceber, ele sacou duas armas e correu na direção deles. A rapidez e a agilidade do forasteiro impressionaram seus adversários, mas não foi apenas isso. Ele pisou nos lugares certos, percorreu os caminhos certos, deu exatamente o número de tiros necessários. Infiltrou-se no meio da caravana, movendo-se como um fantasma por entre os atiradores. Daquela figura solitária e frágil, surgiu um matador. Foi quando a disputa virou de lado. Pois o tal forasteiro estava sempre seis passos à frente dos bretões. E antes que pudesse realmente chegar a seu ápice, a batalha estava liquidada.

Rumores sobre aquela misteriosa figura que sempre vinha em socorro dos índios floresceram por toda parte. Alguns diziam que ele era como o vento, e vivia entre instantes de segundos. Outros, que era um pássaro veloz e zeloso protegendo seu território. Mas a descrença era forte, e os próprios índios acabaram por venerar mais alguns deuses ausentes do que seu verdadeiro salvador.

Atravessando as áridas planícies do Oeste, atrás dos meus próprios destinos, cruzei com um forasteiro misterioso. Seu chapéu cobria o rosto quase por completo. Suas roupas eram sujas e gastas. Tinha a aparência de um garoto frágil, como se nunca tivesse provado o gosto de uma mulher. Quando contei a ele sobre essas lendas, apenas riu. Um sorriso fácil, amistoso, como se viesse de um menino. Mas não foi uma risada de descrença, ou de ironia. Foi aquela risada de quem conhece a verdade e se espanta com os desdobramentos que ela pode ter.

Seu nome, ele me disse à época, era Nilmar.

11 de nov. de 2009

Inacreditável

Acabei de assistir Palmeiras 2 x 2 Sport. Grande jogo, com o time pernambucano abrindo 2 a 0 logo nos 16 primeiros minutos, resultado que ainda não atirava de vez a equipe para a segunda divisão. Aí o Palmeiras foi pra cima com coração, garra, raça e todos esses adjetivos que supostamente são exclusividade de um certo time gaúcho (não sei por que eles não registraram esses substantivos ainda) e conseguiram diminuir o marcador, na metade do segundo tempo. Logo depois, um jogador do Sport foi expulso em uma jogada em que levou o segundo cartão amarelo.

O lance da expulsão foi, a meu ver, meio controverso, mas dá para alegar que é um desses lances que uma pessoa daria o amarelo (e por consequência expulsaria), mas a outra não. Só sei que eu não daria.

Porém, aos 39 do segundo tempo, após um cruzamento na área, a bola é rebatida para a intermediária e rapidamente volta quase para a linha da pequena área, onde Danilo, em posição que no momento era duvidosa, a mata no peito e a chuta para o gol. Nesse meio tempo, os jogadores do Sport simplesmente PARARAM de jogar, esperando o impedimento. Bola na rede, gol de empate do Palmeiras. A bola passou a menos de um metro do goleiro, em baixa velocidade, e ele não fez nada para tentar defendê-la. Comentei na hora com o meu irmão que esse time tinha que cair mesmo, porque é muito amadorismo parar de jogar em uma jogada duvidosa esperando que o juiz vá apitar algo a seu favor.

O replay aparece e mostra que Danilo estava em posição legal. Volta a transmissão do jogo e os jogadores do Sport estão furiosos com o árbitro, aparentemente sem razão alguma. Um deles recebe um cartão amarelo e o jogo segue.

Aí um repórter de campo avisa que a reclamação dos jogadores do Sport é sobre um suposto apito que o juiz teria dado antes do gol, indicando que havia marcado impedimento contra o Palmeiras. Então, Cléber Machado, o narrador da partida, pergunta aos dois repórteres se eles ouviram alguma coisa, ao que ambos respondem não. Minutos depois, um deles avisa Cléber que um técnico de som (ou algo parecido, não me lembro) da Globo disse ter ouvido claramente o apito do árbitro ANTES do gol. Silêncio na cabine da globo. Uns quinze segundos depois, Caio (comentarista) começa a falar sobre algo que não tinha nada a ver com o assunto. Mais uns dez segundos de silêncio total. Cléber Machado comenta algo sobre o comentário de Caio, dá uma titubeada e para novamente de falar. Então a narração prossegue normalmente.

Fim de jogo. Os jogadores do Sport cercam o árbitro, que antes é cercado por policiais que o protegem. Eles gritam com ele, colocam o dedo em riste, e dá para ler claramente na boca de dois deles algo do tipo "você apitou antes, cara". Aí Cléber Machado fala algo genérico do tipo "olha aí os jogadores do Sport reclamando com o árbitro" e a imagem corta para uma entrevista super interessante com Marcos, o goleiro do Palmeiras. Depois disso, o outro repórter entrevista um zagueiro do Sport, que fala claramente que o juiz havia apitado o impedimento de Danilo (e também reclama da expulsão do seu companheiro). Ninguém comenta nada.

A transmissão vai para o intervalo. Volta e começa aquele microprograma que passa todos os gols da noite. Quando Cléber Machado e Renato Marsiglia, o comentarista de arbitragem da noite, voltam para falar sobre o jogo, mostram o segundo gol do Palmeiras para avaliar se houve alguma irregularidade. Só falam do impedimento, dizendo que não houve (o que é LÓGICO) e que, portanto, não houve falha da arbitragem. Eu, que agora estou ciente da reclamação da equipe do Sport, fico cuidando o árbitro da partida no lance. Por todos os ângulos, dá pra ver claramente que ele leva o apito à boca ANTES do gol, em um provável apito que os senhores que transmitem o futebol na Globo simplesmente ignoraram.

Não estou dizendo que o juiz roubou; minha teoria é que, se ele realmente apitou antes - o que é bem provável, pelos replays -, ele deve ter visto, em seguida, que o Danilo não estava impedido, pensado "que merda, agora já apitei, ah, mas o Beluzzo ameaçou o Simon de dar uma porrada na cara dele quando o encontrasse, ninguém deve ter ouvido o apito, vou dar o gol para poder sair tranquilo do estádio, é o Palmeiras contra o Sport mesmo" e então operado o time pernambucano. O problema não é esse, mas sim da passividade total da equipe da Globo que, covardemente, deixou de comentar esse lance, provavelmente esperando uma repercussão posterior (se houver) ou uma ordem de cima (partindo que quem, de um palmeirense?). Será que se fosse ao contrário, depois de toda a polêmica do jogo Fluminense x Palmeiras, eles ficariam quietos? Será interessante ver como a imprensa esportiva reagirá na quinta-feira sobre o assunto.

Mas é fato que a Globo se acovardou em comentar o acontecido. Logo depois, no Jornal da Globo, várias reportagens sobre o "apagão" de terça-feira, como ele fez mal para o Brasil, como a explicação do governo deve ter sido uma desculpa esfarrapada e como a Dilma deve ter a ver com isso. Mas nada sobre a OPERAÇÃO no Sport. Bem do jeito Globo de fazer jornalismo.

Update:

Segue o vídeo do troço. Escute o apito aos três segundos de vídeo.

8 de nov. de 2009

Xena, a princesa guerreira

O futebol feminino está cada vez mais parecido com o masculino, também no pior sentido. Um exemplo é a violência de algumas jogadoras, espelhadas por homens de bem como Dinho, Sandro Goiano, Erguren e Chuck Norris. Talvez a mais destacada delas seja a norteamericana Elizabeth Lambert, jogadora da Universidade do Novo México, da liga universitária feminina de futebol dos EUA. Ela possui atributos que fariam jogadores como Domingos (ex-Santos) e Willians (Flamengo) babarem de inveja - e não, não estou falando de beleza.

Confiram no vídeo.



Ah, e só pra contar, os norteamericanos consideram o soccer (nosso futebol) coisa de mulherzinha...