28 de out. de 2009

Como motivar uma equipe (ou como fazer jornalismo de merda)

Saiu hoje na Zero Hora on-line uma reportagem com o seguinte título: Paulistas duvidam do Inter. A reportagem saiu horas antes da partida entre São Paulo e Inter, de extrema importância para as duas equipes continuarem sonhando com a Libertadores e o título brasileiro. Pois bem, leia lá a matéria e depois volte aqui para ler o restante.

Já leu? Beleza. Então vamos a algumas questões:

- O título diz "Paulistas duvidam do Inter". Ou seja, aqueles malditos moradores de São Paulo duvidam do melhor time do mundo (porque o Inter é hoje melhor do que o Grêmio, então o Inter é o melhor time do mundo, senão seria o Grêmio). Só que, ao ler a reportagem, tu te depara com o trecho "Dez comentaristas de todo o país, uns mais famosos, outros menos, mas todos representantes de veículos importantes de TV e mídia impressa, foram convidados a dizer quem será o campeão". Peraí, mas não eram os paulistas que duvidavam do Inter? Ah, mas é que talvez só os paulistas tenham descartado o colorado. "Sabe quantos disseram “Inter”? Nenhum". Ou seja, NINGUÉM apostou no Inter para ser campeão brasileiro, e não só os paulistas.

- "Um deles o gaúcho Batista, da RBS TV e TV COM". Opa! Quer dizer que dentre os "comentaristas famosos ou não", está um gaúcho que NÃO colocou o Inter como campeão brasileiro? Por que o título só faz menção aos paulistas então?

- "Então, ninguém mais acredita no Inter. Não era assim no primeiro semestre. O consenso nacional de que no Beira-Rio havia um candidato a campeão com direito a ótimo futebol, acabou." Aqui, nenhuma mínima tentativa de análise do por que dessa descrença aparentemente tão repentina. Nenhuma menção à mais remota possibilidade de a culpa disso ser do próprio Inter, que perdeu a Recopa e a Copa do Brasil, saiu cedo da Sul-Americana e patina no Campeonato Brasileiro, chegando a empatar com o Fluminense.

- "Os jogadores, claro, ficaram sabendo desta descrença toda em relação ao Inter. E pretendem usá-la como mais uma forma de mobilizar energias." Quem vocês acham que contou para os jogadores essa "barbaridade"?

O Inter não é mais o favorito para ganhar o Campeonato Brasileiro há algum tempo, e por culpa dele mesmo. Esse mimimi a respeito da suposta "dúvida" em relação à qualidade da equipe não vem de um preconceito do centro do país, vem dos resultados pífios que a equipe vem colhendo ao longo dos últimos meses e das arrancadas de outros times. Eu, particularmente, não vejo o Inter nem na Libertadores - pela fase que apresenta, até o Cruzeiro é mais candidato. Porém, é óbvio que ele ainda tem chances, tanto de vaga para a Libertadores quanto de vencer o Brasileiro, e elas podem ficar maiores com uma vitória hoje à noite. Porém, é inegável que a qualidade do futebol apresentado pelo colorado vem deixando a desejar há algum tempo.

Assim como a qualidade de reportagens desse tipo aí.

11 de out. de 2009

O excesso de profissionalismo

A partida de hoje entre Brasil e Bolívia foi mais do que um teste de paciência, foi a prova de que a mente humana realmente se interessa por tragédias desalentadoras. Impossível definir a incapacidade criativa do meio de campo canarinho, formado por Josué, Ramires, Daniel Alves e Diego Souza. Era como ver um bando de patos tentando tocar a nona sinfonia do Beethoven de trás pra frente.

Entretanto, o jogo foi quase assistível se comparado à transmissão da Rede Globo. Vamos levar em conta as seguintes informações relevantes: na altitude fica difícil de respirar, na altitude a bola corre mais rápido, o Brasil estava invicto fazia 19 jogos. Agora imagine um aluno fazendo uma prova dissertativa onde ele precisa falar sobre futebol e só possui essas três informações, ou seja, repete e repete e enrola com elas o máximo possível.

Foi isso que Galvão Bueno e cía fizeram hoje. Sempre que o Brasil errava algum lance, a altitude era a culpada e se iniciava o longo discurso de como é desumano jogar em La Paz. Então vinha à tona a questão da invencibilidade e do belo trabalho que Dunga fazia. Logo, sem motivo nenhum, falava-se do gol impedido do Palermo que salvou a Argentina. Depois, mais alguns golpes de marreta na altitude, e começava tudo de novo.

Tudo mais que foi mencionado pelo Galvão ou seus asseclas é digno de figurar como piada no Zorra Total. Prova de que as transmissões televisivas estão piores do que nunca. Não há espaço para nenhuma informalidade, e tudo é número. Quantos gols, quantos quilômetros, quantas partidas invicto, quantos tabus, quanto dinheiro o sujeito ganha, quantos centímetros a mais ou a menos, quantas assistências, quanto isso, quanto aquilo, quanto mais informação desnecessária, melhor. Há uma busca incessante por absolutamente QUALQUER COISA que possa ser dita aos espectadores - aliás, até mesmo os replays por DEZENOVE ângulos diferentes tornam-se cansativos.

Já que as redes de televisão clamam tanto o futebol como arte, está na hora de pararem de tratar o esporte como se fosse ciência exata.

10 de out. de 2009

Sobre futebol

Argentina e Peru acabaram de tirar o pó do esporte. Com chuva abastada, péssimas decisões do juiz e uma boa dose de surrealidade, fizeram valer todas as máximas que tratam o futebol como a mais sagrada das atividades praticadas pelo homem.

O coração dos torcedores, dos verdadeiros torcedores, aqueles que ficam até o final torcendo desesperadamente para que um milagre dê as caras, é constituído por uma paixão de aço. Nada e tudo os abala ao mesmo tempo. O tipo de paradoxo que só pode ser realizado por algo acima das noções mundanas que possuímos.

1 de out. de 2009

Paradinha pra fora

Mostrando que não tem absolutamente nada pra fazer da vida, a FIFA proibiu a famosa "paradinha" na hora do pênalti, que será severamente punida com cartão amarelo a partir de novembro por ser uma agressão brutal, desnecessária e completamente anti-esportiva pra cima do goleiro.

Não que eu ache a paradinha completamente indispensável para o bem-estar do esporte, não é isso. Talvez seja até uma boa mudança. O que me incomoda é a Federação Internacional de Futebol Amador meter cada vez mais seu nariz nas questões do jogo propriamente ditas. Não pode levantar camiseta, não pode driblar em excesso, não pode rezar antes ou depois, e por aí vai. Colocar restrições e exigências para que os países de terceiro mundo deixem de ser uma FEIRA DE DOMINGO de jogadores, onde tudo que os europeus precisam fazer é chegar, pagar e botar na sacola? Isso não precisa (a analogia também faz sentido porque certos atletas que europeiam tratam a bola como se ela fosse uma melancia. Mas divago).

A FIFA tá precisando urgentemente de sexo. E não vai conseguir nada com a UEFA, aquela loira arrogante que só dá pra quem tiver pedigree. Então das duas uma: ou tira o atraso com a alguma outra confederação (a AFC, de preferência, a FIFA tem bem o jeitinho de quem tem tara por olhinhos puxados), ou dentro do campo a coisa vai ficar cada vez mais fodida.